sexta-feira, 29 de julho de 2016

O BRILHO DA MICA: TRABALHO INFANTIL E TRABALHO SEM DIRETOS

Sabia que a beleza, o luxo e o glamour, de lábios, unhas e olhos a brilhar, dos carros cintilantes à luz do sol são originados pelo uso da mica, palavra de origem latina micare que significa brilhar ou piscar e que dá o nome a um grupo de minerais únicos na natureza devido às suas propriedades.

Inerte (não reage com a água, ácidos, ou solventes de petróleo) cristalina, leve, flexível e forte, capaz de resistir a altas temperaturas e às alterações da temperatura, capaz de suportar tensões elevadas e isolar com baixa perda de potência, capaz de absorver ou refletir a luz, permitindo efeitos decorativos e proteção contra os raios UV, a Mica tornou-se num ingrediente das indústrias de beleza, da construção, aeroespacial ou automóvel. Usada como pigmento perolizado no sector das tintas e revestimentos, nos cosméticos, como isolante na indústria de material elétrico, como elemento dos pneus de borracha, embraiagens, e pastilhas de travões, como produto de enchimento em produtos cosméticos e de higiene pessoal e na indústria da construção (usada regularmente como agente de enchimento de cimento de fibra e placas de gesso), na indústria do petróleo como elemento dos líquidos de perfuração utilizados em poços de petróleo.
Uso da Mica
Extraída principalmente na Índia e na China, ¾ da mineração ocorre na Índia nos estados de Jharkhand e Bihar, onde 90% da produção é extraída em minas ilegais, representando 25% da produção mundial. A mica extraída na Índia é depois exportada para a China (67%), Japão (9%), Bélgica (7%) e EUA (6%).


Pela área de mineração (uma área de 75 por 20 kms nos estados de Jharkhand/Bihar) espalham-se 300 aldeias, onde vivem cerca de 270.000 pessoas muito pobres, 52.000 delas crianças com menos de 7 anos, que trabalham na sua maioria em minas ilegais, onde os processos de mineração são de trabalho manual intensivo. A extração envolve a utilização de ferramentas simples, explosivos e martelos de ar comprimido, ocorre principalmente em pedreiras com buracos apertados de cerca de 10 metros de profundidade abertos pelos aldeões. A rocha é batida repetidamente com um martelo “cobbing” para remover a ganga, minerais como o quartzo, feldspato, e separá-los da mica. Segue-se o processo da separação, onde a mica é transformada em folhas finas, por mulheres, que utilizam facas afiadas para separar a mica na espessura necessária e as tesouras para remover as arestas irregulares. De acordo com os dados da organização não-governamental, SOMO/Terre des Hommes, (aqui) cerca de 20.000 crianças são empregues nos trabalhos de mineração e cobbing, apesar de estar proibida pela legislação laboral da Índia e da Organização Internacional do Trabalho e de US Department of Labor o considerarem como uma das piores formas de trabalho infantil no mundo.

The lost childhood of India's mica minors

Expostos a desmoronamentos, a colapsos das galerias, os trabalhadores das minas de mica, estão ainda expostos ao pó da sílica e do quartzo associados à silicose, à DPOC e ao cancro do pulmão. Vítimas de baixos salários por viverem num país pobre onde o salário médio de um mineiro ronda os € 3.7 por dia, os trabalhadores das minas de mica recebem ainda menos, cerca de € 1.7 a € 2.5 por dia conforme trabalhem fora ou dentro da mina, podendo uma criança de 5 anos receber € 0.3 dia.
Apesar dos esforços do governo da Índia (aqui), do trabalho das ONG (aqui), e do compromisso assumido por algumas das empresas produtoras e utilizadoras de mica para combaterem o trabalho infantil e promoverem as condições de trabalho e sociais nas áreas de mineração sucedem-se as denúncias da utilização por parte da indústria automóvel ou cosmética de fornecedores de matéria-prima ligados ao trabalho infantil (aqui) (aqui)(aqui).

O Brilho da Mica, não é magia é apenas exploração.







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