sábado, 23 de julho de 2016

A VIDA ÀS CORES - A RAÇA, A SAÚDE E O BEM ESTAR DAS CRIANÇAS AMERICANAS

Julho de 2016 ficou marcado pela imagem de uma criança de 4 anos, Dae´Anna, confortando a mãe Diamond Reynolds, "It"s okay, mommy, don"t be scared, I"m right here with you" após ter assistido no banco de trás do carro onde seguia à morte de Philando Castle (namorado da mãe) às mãos da polícia, na sequência de uma operação de trânsito motivada por viajarem num carro com um farol partido (aqui). A indignação pública que se seguiu às mortes violentas de Philando Castle e de Alton Sterling (morto no dia anterior) às mãos da polícia (aqui), gravadas por telemóveis e transmitidas nas redes sociais, e a brutalidade policial contra as pessoas negras, geraram protestos e manifestações no mundo e nos Estados Unidos. Agora,como em 1960 as questões da raça, do racismo e das desiguldades estão de novo na ordem do dia. À imagem de Dae´Anna, justapõe-se, a imagem de Ruby Bridges, a menina de 6 anos, que acompanhada pelos US Marshall, cumpriu o seu primeiro dia de escola, numa escola integrada dos Estados Unidos em Novembro de 1960  (aqui).
"The Problem We All Live With" - Norman Rockwell
Mais de 50 anos passados, vale a pena recordar a citação de Ruby Bridges, que é hoje uma ativista pelos direitos civis nos Estados Unidos, “racism is a grown-up disease and we must stop using our children to spread it” e recordar o papel da raça nas desigualdades e nos determinantes sociais da saúde, em especial nas crianças.

Vale a pena então olhar para alguns dos indicadores do último relatório "America's Children: Key National Indicators of Well-Bein" publicado pelo "Federal Interagency Forum on Child and Family Statistics".

  • Pobreza infantil: Dos 15.5 milhões de crianças (0 - 17 anos) que viviam na pobreza nos EUA (21%), 37% eram " black non hispanics", 32% eram "hispanic" e 13% " white non-hispanic";
% OF CHILDREN AGES 0–17 LIVING IN POVERTY BY RACE AND HISPANIC ORIGIN AND FAMILY STRUCTURE, 1980–2014
  • Insegurança alimentar: Dos 21% das crianças americanas que viviam em domicílios com insegurança alimentar, 34% eram " black non hispanics", 29% " hispanic " e 15% eram "white non-hispanic";
% OF CHILDREN AGES 0–17 IN FOOD-INSECURE HOUSEHOLDS BY RACE AND HISPANIC ORIGIN OF HOUSEHOLD REFERENCE PERSON, 2001–2014
  • Asma: 13% dos " black non hispanics",  reportaram em asma em 2014, contra 8% de "hispanic", 8% de "white non-hispanic" e 6% de " asian, non-hispanic";
  • Vacinação: Em 2014 a cobertura vacinal " combined seven-vaccine series (4:3:1:3*:3:1:4)" nas crianças de 19-35 meses, era de 65 % para as crianças " black non hispanics",  contra 74% para as crianças "hispanics" e 73% para as "white non-hispanic".

 % OF CHILDREN AGES 19–35 MONTHS VACCINATED WITH COMBINED SEVEN-VACCINE SERIES BY RACE AND HISPANIC ORIGIN, 2009–2014

Quando analisados no seu conjunto estes e os outros indicadores publicados, mostram um panorama sombrio para a saúde e o bem estar não só das crianças negras norte-americanas mas de todas as crianças não " white non-hispanic ", mas tornam-se ainda mais preocupantes quando se tem em conta um recente estudo de opinião publicado na imprensa americana (aqui), que revela que a maioria dos inquiridos se mostra mais pessimista no que se refere às relações raciais agora do que nos últimos 20 anos, "more than 6 in 10 adults say race relations are generally bad, and a majority say they are getting worse".

60 anos passados sobre a imagem de Ruby Bridges retratada por Norman Rockwell, e no momento em que a sociedade americana vai entrar num um ciclo eleitoral que se avizinha difícil para as "pessoas de cor", sem uma atenção constante e uma vontade forte de reduzir e corrigir as iniquidades, o racismo estrutural continuará a afetar os mais vulneráveis, em particular as crianças. 

Sem comentários: