A
imprensa mundial reproduziu durante o dia de ontem (aqui), as estimativas de
um estudo publicado no dia 25 de Julho na revista Nature Microbiology
que apontam para que existam nos próximos dois a três anos 93
milhões de pessoas infetadas pelo vírus Zika, prevendo-se a
possibilidade de 1.6 milhões delas serem grávidas (aqui). A esta
informação associaram muitos dos órgãos de comunicação social
mundial o nascimento do primeiro bebé com microcefalia associada ao
Zika num país europeu (Espanha) (aqui)(aqui), filho de uma mulher infetada por
Zika e Dengue numa viagem à América Latina, colocando na agenda
mediática as incertezas que cercam o futuro da epidemia de Zika nas
Américas, em particular sobre o número de grávidas que pode ser
afetado pelo risco de ter filhos com microcefalia ao nascimento, tendo
em conta os dados publicados até aqui que apontam para possibilidade
de 1 a 13% de crianças vir a desenvolver microcefalia.
Perante
esta explosão mediática pronta a espalhar o pânico, vale a pena
contrapor que o Zika como outras epidemias é uma daquelas “doenças
da pobreza” endémicas nas regiões pobres, onde falta a água
limpa, o sanemento básico, o trabalho, o acesso à educação e a
justiça social, onde a falta de infra-estruturas de saúde pública
permite que a doença se espalhe sem resistência significativa. O
vírus Zika é transmitido pelos mosquitos do género Aedes aegypti
que também são responsáveis pela propagação da febre amarela, do
dengue ou da chikungunya. É nas "favelas", nas "villas miserias", nas "chabolas", em todos os bairros pobres e insalubres que as populações
de mosquitos prosperam, estimulados pela abundância de água
estagnada, falta de saneamento e densidade populacional.
Na
ausência de políticas públicas que combatam as condições
insalubres em que vivem as populações mais vulneráveis, a epidemia
do Zika agravará as desigualdades de saúde em função da renda,
face aos determinantes sociais de saúde, conforme é retratado (aqui).
A
noção de que uma doença se pode espalhar de uma forma epidémica
quase invisível, que pode estar associada ao desenvolvimento de
microcefalia em alguns bebés é altamente perturbadora, mas em vez
de alimentar o pânico é necessário criar uma perspetiva
construtiva, incentivando políticas públicas que permitam lidar com
os determinantes socais e com as iniquidades.(aqui)
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