terça-feira, 26 de julho de 2016

ZIKA VÍRUS: OS CUSTOS E OS DETERMINANTES SOCIAIS DE UMA EPIDEMIA

A imprensa mundial reproduziu durante o dia de ontem (aqui), as estimativas de um estudo publicado no dia 25 de Julho na revista Nature Microbiology que apontam para que existam nos próximos dois a três anos 93 milhões de pessoas infetadas pelo vírus Zika, prevendo-se a possibilidade de 1.6 milhões delas serem grávidas (aqui). A esta informação associaram muitos dos órgãos de comunicação social mundial o nascimento do primeiro bebé com microcefalia associada ao Zika num país europeu (Espanha) (aqui)(aqui), filho de uma mulher infetada por Zika e Dengue numa viagem à América Latina, colocando na agenda mediática as incertezas que cercam o futuro da epidemia de Zika nas Américas, em particular sobre o número de grávidas que pode ser afetado pelo risco de ter filhos com microcefalia ao nascimento, tendo em conta os dados publicados até aqui que apontam para possibilidade de 1 a 13% de crianças vir a desenvolver microcefalia. 

Perante esta explosão mediática pronta a espalhar o pânico, vale a pena contrapor que o Zika como outras epidemias é uma daquelas “doenças da pobreza” endémicas nas regiões pobres, onde falta a água limpa, o sanemento básico, o trabalho, o acesso à educação e a justiça social, onde a falta de infra-estruturas de saúde pública permite que a doença se espalhe sem resistência significativa. O vírus Zika é transmitido pelos mosquitos do género Aedes aegypti que também são responsáveis pela propagação da febre amarela, do dengue ou da chikungunya. É nas "favelas", nas "villas miserias", nas "chabolas", em todos os bairros pobres e insalubres que as populações de mosquitos prosperam, estimulados pela abundância de água estagnada, falta de saneamento e densidade populacional.



Na ausência de políticas públicas que combatam as condições insalubres em que vivem as populações mais vulneráveis, a epidemia do Zika agravará as desigualdades de saúde em função da renda, face aos determinantes sociais de saúde, conforme é retratado (aqui).

A noção de que uma doença se pode espalhar de uma forma epidémica quase invisível, que pode estar associada ao desenvolvimento de microcefalia em alguns bebés é altamente perturbadora, mas em vez de alimentar o pânico é necessário criar uma perspetiva construtiva, incentivando políticas públicas que permitam lidar com os determinantes socais e com as iniquidades.(aqui)


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