quinta-feira, 7 de julho de 2016

OECD EMPLOYMENT OUTLOOK 2016 - O TRABALHO COMO DETERMINANTE SOCIAL DA SAÚDE

Passaram, quase, 10 anos sobre a crise financeira mundial, e o mercado de trabalho mundial ainda não atingiu os níveis de 2007.

Os dados hoje publicados pela OCDE OECD Employment Outlook 2016” (aqui) que apontam para uma retoma desigual, e para um desemprego demasiado elevado num número considerável de países europeus pertencentes à OCDE, afetando em particular os trabalhadores com menos qualificações, os mais jovens, as mulheres trabalhadoras, muitos dos países europeus como a Grécia, a Hungria, a Itália, a Polónia, a Eslováquia, a Espanha, a Turquia e Portugal, viram piorar os ganhos no trabalho (o salário por hora trabalhada ajustada da desigualdade), a insegurança do mercado de trabalho (a perda de rendimento associada a uma situação de desemprego) e a qualidade do ambiente de trabalho (trabalhadores que trabalham sob tensão).

Em termos gerais, a organização conclui que comparando os indicadores de 2007 com os de 2013, “é claro que a crise teve um efeito negativo na qualidade do emprego na maioria dos países da OCDE, ao degradar consideravelmente a segurança do mercado de trabalho”. Este é o resultado do impacto combinado entre o aumento substancial do risco de desemprego e uma baixa taxa de substituição de rendimentos conseguida através da proteção social no desemprego. Sobretudo porque muitos desempregados de longa duração esgotaram o direito ao subsídio e não conseguiram voltar ao mercado de trabalho.

Perante esta situação e a falta de respostas adequadas que minimizem estes impactos na saúde das comunidades, será previsível o agravamento das desigualdades em saúde tendo em conta o fator trabalho, uma vez que as condições de trabalho são um importante determinante social da saúde por causa da enorme quantidade de tempo que passamos nos nossos locais de trabalho.

As pessoas que já são mais vulneráveis ​​a problemas de saúde como consequência do seu baixo rendimento e menor escolaridade também são mais propensas a experienciar piores condições de trabalho.
A investigação identificou uma série de dimensões do trabalho que determinam os resultados em saúde:
1)  Segurança no emprego:
2)  As condições físicas do trabalho;
3)  Ritmo de trabalho e stress;
4)  Horário de trabalho;
5)  Oportunidades para o desenvolvimento individual no trabalho e para autoexpressão;
Empregos altamente stressantes predispõem as pessoas à hipertensão arterial, às doenças cardiovasculares, e ao desenvolvimento de problemas de saúde mental, como a depressão e a ansiedade.
A investigação publicada mostrou que os desequilíbrios entre as exigências (por exemplo: pressões de tempo, e responsabilidade) e as recompensas (por exemplo: o salário, o respeito dos supervisores) levam muitas vezes a problemas significativos.
Por outro lado o desemprego conduz frequentemente à privação material e social, ao stress psicológico, e à adoção de comportamentos que põem em risco a saúde. O desemprego está associado ao aumento de problemas de saúde físicos e mentais, nomeadamente à depressão, à ansiedade e ao suicídio.

Tudo isto vem a propósito dos dados hoje publicados pela OCDE, “ OECD Employment Outlook 2016”, onde a OCDE faz uma análise a vários indicadores para perceber qual o impacto da crise na qualidade do emprego, concluindo que:

1)  “Mesmo em países onde a estagnação do mercado de trabalho foi superada, a falta de qualidade de alguns empregos e o elevado nível de desigualdades no mercado de trabalho são aspetos preocupantes. Muitos dos trabalhadores que ficaram sem emprego durante a Grande Recessão estão de novo a trabalhar, mas o crescimento dos salários continua a ser insuficiente e muitos trabalhadores sofrem de stress ocupacional. Muitos dos trabalhadores deslocados de empregos na indústria e na construção durante a Grande Recessão verificaram que as suas competências e experiência não os habilitavam aos empregos com uma remuneração melhor que estão a ser criados no setor dos serviços.”

2)  “(Que)… os jovens pouco qualificados que não têm emprego nem estão a estudar nem a receber formação (os chamados “NEM-NEM”) correm o risco de ficar para trás. Em 2015, 15% dos jovens de 1529anos de idade na área da OCDE enquadravamse nesta categoria, registando uma subida moderada relativamente aos valores registados pouco antes da crise global em 2007. Em média, 38% de todos os NEMNEM não concluíram o 2.º ciclo do ensino secundário na área da OCDE e é menos provável que estejam ativamente a procurar emprego do que os NEM-NEM com mais anos de escolaridade (33% contra 45%). Quase um terço dos NEM-NEM pouco qualificados vivem num agregado familiar com desempregados (isto é, um agregado familiar onde não existe um adulto com emprego), o que sugere que muitos dos indivíduos pertencentes a este grupo estão confrontados com rendimentos reduzidos e oportunidades limitadas no mercado de trabalho.”

Finalmente e como curiosidade fica aqui o gráfico das horas trabalhadas nos países da OCDE:

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