quinta-feira, 22 de outubro de 2015

PRIVAÇÃO, POBREZA, SAÚDE E A LEI DOS CUIDADOS INVERSOS.

Os recentes dados publicados pelo INE, no passado dia 16 de Outubro, sobre saúde recolhidos pelo Inquérito às Condições de Vida eRendimento (EUSILC) realizado em 2014, demonstram que “ para as pessoas em situação de maior vulnerabilidade, a falta de capacidade financeira para suportar estas despesas de saúde assumiu proporções bastante significativas, tendo sido referida por 73,6% das pessoas que se encontravam simultaneamente em risco de pobreza e em privação material relativamente a exames ou tratamentos médicos, e 96,4% relativamente a exames ou tratamentos dentários”, confirmando que a população das áreas com maior risco de pobreza e privação material tem maior probabilidade de sofrer de doença crónica, tanto física e mental, ao mesmo tempo que tem menor disponibilidade para aceder aos cuidados de saúde.
Estas conclusões confirmam a lei dos cuidados inversos proposta por Julian Tudor Hart, médico de clínica geral do País de Gales, em 1971 na revista Lancet.


Tudor Hart definiu na revista Lancet a lei dos cuidados inversos que estabelece que a disponibilidade e o acesso aos serviços de saúde são menores para a população com mais necessidades, “ The availability of good medical care tends to vary inversely with the need for the population served. This inverse care law operates more completely where medical care is most exposed to market forces, and less so where such exposure is reduced.  The market distribution of medical care is a primitive and historically outdated social form, and any return to it would further exaggerate the maldistribution of medical resources.”

41 Anos mais tarde em 2012, Tudor Hart com outros 4 autores, confirmaram num Editorial do British Medical Journal, que a lei dos cuidados inversos não é uma lei natural mas resulta de políticas que restringem o acesso a cuidados de saúde efetivos. “The inverse care law is not a natural law but the result of policies that restrict access to effective needs based care. It mainly affects patients of low socioeconomic status with multimorbidity, who have a mix of physical, psychological, and social problems, and consequently need time, empathy, and a holistic patient centred approach to care. The law therefore results in healthcare underachieving in poor areas.” Propondo que os serviços de saúde aprendam a lidar com as desigualdades escondidas e afetem os recursos adequados às necessidades das populações afetadas. “For healthcare services to narrow rather than widen inequalities in health, they need to be at their best when meeting the challenge of caring for patients with multimorbidity in deprived areas. For this to occur, the allocation of resources will need to match the greater needs of deprived populations”.

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