quarta-feira, 21 de outubro de 2015

RUDOLF VIRCHOW - A SAÚDE AINDA É SOCIAL

Há 194 anos, no mês de Outubro de 1821 nascia na cidade de Świdwin (Polónia) na antiga pomerânia prussiana Rudolf Virchow um dos mais eminentes médicos e cientistas do século XIX, e um homem do seu tempo. Depois de ter estudado Medicina na Universidade de Berlim (1839-1845) Virchow ingressa no Hospital Charité onde inicia o estudo dos processos patológicos aplicados à histologia, publicando em 1845 um artigo em que relata um dos dois mais antigos casos de leucemia. Ao mesmo tempo que desenvolve a sua atividade de patologista no Charité e funda a revista “Archiv für pathologische Anatomie und Physiologie, und für klinische Medizin” participa ativamente na vida social e política da Prússia.

Em 1948 é nomeado pelo Governo para integrar uma comissão para estudar uma epidemia de tifo na Silésia, confrontado com a miséria em que encontrou os habitantes concluiu que “as causas eram sociais, políticas e económicas mais do que biológicas e físicas”. A epidemia é vista, como uma manifestação do desajustamento social e cultural, “Se a doença é uma expressão de vida individual sob condições desfavoráveis, a epidemia deve ser indicativa de distúrbios em maior escala na vida das pessoas“. Para Virchow “a medicina é uma ciência social e a política nada mais é que a medicina em grande escala”

Regressado a Berlim participa ativamente no levantamento republicano que ocupa Berlim durante o período revolucionário que alastra pela Europa e que ficou conhecido como a “Primavera dos Povos ou as Revoluções de 1848”. É suspenso do Charité em 1948 e mais tarde integrado com perda de regalias. Em 1849 é convidado para reger a primeira cátedra de Anatomia Patológica na Universidade de Würzburg, ao longo dos sete anos seguintes passam-lhe pelas mãos muitos dos futuros vultos da medicina das próximas décadas, entre eles, William Welch e William Osler, dois dos chamados “Big Four” que fundaram o Johns Hopkins Hospital. Inicia a publicação do seu Manual de Patologia Especial e Terapêutica (6 volumes) e de inúmeros artigos sobre o conceito de patologia celular. Volta a Berlim em 1856 continuando a desenvolver um vasto trabalho de investigação, sobre o cancro, sobre os mecanismos do embolismo e do tromboembolismo, sobre o papel dos parasitas ou mesmo sobre o processo técnico de realização de autópsias.  
Durante a sua estadia em Berlim mergulha na vida política e social, é um forte opositor do primeiro-ministro Bismarck, é eleito para a Câmara de Berlim e para o Parlamento prussiano o “ Reichtag”, afirma-se como um ativista da saúde pública, desenvolvendo intensa atividade no tratamento dos esgotos, na inspeção de carnes e na promoção da saúde e da higiene escolar. Supervisiona a construção de dois grandes novos hospitais de Berlim, o Friedrichshain e o Moabit, abre uma escola de enfermagem no Hospital Friedrichshain, e projeta o novo sistema de esgotos de Berlim. Funda o Partido Progressista Alemão e é um adversário incansável do primeiro-ministro Bismarck , gerando uma estória apócrifa que fica para a posteridade. “ Desafiado para um duelo por Bismarck, Virchow tem direito aescolher as armas, escolha duas salsichas de porco carregadas de Trichinella spiralis, uma cozida para si e outra crua para Bismarck, que recusa por considerar o duelo demasiado arriscado.”

Mas o legado mais importante que Rudolf Virchow nos deixou desde 1848, inspirado no seu trabalho de investigação na Alta Silésia, onde descobriu que as verdadeiras causas para a epidemia de tifo residiam nas condições de vida da população polaca da região, sumetida pelo poder da aristocracia apoiado pela igreja, são os fundamentos para a prática da medicina social : a saúde da população é uma matéria de interesse social; as condições sociais e económicas têm um efeito importante sobre a saúde e sobre a doença, e essas relações devem ser submetidos a investigação científica; as medidas tomadas para promover a saúde e para combater a doença devem ser tanto médicas como sociais.


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