Há 194 anos, no mês de Outubro de
1821 nascia na cidade de Świdwin (Polónia) na antiga pomerânia prussiana Rudolf Virchow um dos mais eminentes médicos e cientistas do século XIX, e um homem do
seu tempo. Depois de ter estudado Medicina na Universidade de Berlim (1839-1845)
Virchow ingressa no Hospital Charité onde inicia o estudo dos processos patológicos
aplicados à histologia, publicando em 1845 um artigo em que relata um dos dois
mais antigos casos de leucemia. Ao mesmo tempo que desenvolve a sua atividade
de patologista no Charité e funda a revista “Archiv für pathologische Anatomie
und Physiologie, und für klinische Medizin” participa ativamente na vida social
e política da Prússia.
Em 1948 é nomeado pelo Governo
para integrar uma comissão para estudar uma epidemia de tifo na Silésia, confrontado
com a miséria em que encontrou os habitantes concluiu que “as causas eram
sociais, políticas e económicas mais do que biológicas e físicas”. A epidemia é
vista, como uma manifestação do desajustamento social e cultural, “Se a doença
é uma expressão de vida individual sob condições desfavoráveis, a epidemia deve
ser indicativa de distúrbios em maior escala na vida das pessoas“. Para Virchow
“a medicina é uma ciência social e a política nada mais é que a medicina em
grande escala”
Regressado a Berlim participa
ativamente no levantamento republicano que ocupa Berlim durante o período
revolucionário que alastra pela Europa e que ficou conhecido como a “Primavera
dos Povos ou as Revoluções de 1848”. É suspenso do Charité em 1948 e mais tarde
integrado com perda de regalias. Em 1849 é convidado para reger a primeira
cátedra de Anatomia Patológica na Universidade de Würzburg, ao longo dos sete
anos seguintes passam-lhe pelas mãos muitos dos futuros vultos da medicina das
próximas décadas, entre eles, William Welch e William Osler, dois dos chamados “Big Four” que fundaram o Johns Hopkins Hospital. Inicia a publicação do seu Manual
de Patologia Especial e Terapêutica (6 volumes) e de inúmeros artigos sobre o
conceito de patologia celular. Volta a Berlim em 1856 continuando a desenvolver
um vasto trabalho de investigação, sobre o cancro, sobre os mecanismos do
embolismo e do tromboembolismo, sobre o papel dos parasitas ou mesmo sobre o
processo técnico de realização de autópsias.
Durante a sua estadia em Berlim mergulha
na vida política e social, é um forte opositor do primeiro-ministro Bismarck, é
eleito para a Câmara de Berlim e para o Parlamento prussiano o “ Reichtag”, afirma-se
como um ativista da saúde pública, desenvolvendo intensa atividade no
tratamento dos esgotos, na inspeção de carnes e na promoção da saúde e da higiene
escolar. Supervisiona a construção de dois grandes novos hospitais de Berlim, o
Friedrichshain e o Moabit, abre uma escola de enfermagem no Hospital
Friedrichshain, e projeta o novo sistema de esgotos de Berlim. Funda o Partido
Progressista Alemão e é um adversário incansável do primeiro-ministro Bismarck , gerando uma estória apócrifa que fica para a
posteridade. “ Desafiado para um duelo por Bismarck, Virchow tem direito aescolher as armas, escolha duas salsichas de porco carregadas de Trichinella spiralis, uma cozida para si e outra crua para Bismarck, que recusa por considerar o duelo demasiado arriscado.”
Mas o legado mais importante que
Rudolf Virchow nos deixou desde 1848, inspirado no seu trabalho de investigação na Alta Silésia, onde descobriu que as verdadeiras causas para a epidemia de tifo residiam nas condições de vida da população polaca da região, sumetida pelo poder da aristocracia apoiado pela igreja, são os fundamentos para a prática da medicina social : a saúde da população é uma matéria de interesse social; as condições
sociais e económicas têm um efeito importante sobre a saúde e sobre a doença, e
essas relações devem ser submetidos a investigação científica; as medidas
tomadas para promover a saúde e para combater a doença devem ser tanto médicas
como sociais.
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