domingo, 7 de maio de 2017

ENTRE 2011 - 2015 AUMENTARAM AS DESIGUALDADES EM SAÚDE E OS ENCARGOS DAS FAMÍLIAS COM A SAÚDE

No passado dia 27 de Abril, foi apresentado em Lisboa, no Instituto de Higiene e Medicina Tropical o Relatório português do Health Systems in Transition 2017 (aqui), uma coprodução conjunta daquele Instituto com o European Observatory on Health Systems and Policies (aqui).

O grupo de investigadores liderados pelo Professor Doutor Jorge Simões, analisou as transformações ocorridas no sistema de saúde em Portugal desde 2011, determinadas pela crise financeira e económica mundial, e pelas medidas previstas no programa de ajustamento (MoU), sustentado pela Troika - Fundo Monetário Internacional, Comissão Europeia e o Banco Central Europeu, concluindo que as medidas tomadas, centradas principalmente na contenção de custos e na melhoria da eficiência para assegurar a sustentabilidade financeira do sistema, afetaram negativamente a qualidade e a acessibilidade aos cuidados de saúde, prejudicados pelos enormes cortes orçamentais efetuados no Serviço Nacional de Saúde (durante a vigência do MoU o orçamento do Serviço Nacional de Saúde regrediu 8 anos) e conduziram a um aumento das desigualdades na saúde.
Os autores afirmam que o impacto real das medidas previstas no MoU, não podem ser completamente compreendidas, uma vez que não podem ser dissociadas dos efeitos da crise económica. A comparação de Portugal no contexto internacional no que se refere à relação entre os recursos alocados (despesas de saúde) e os resultados obtidos (esperança de vida ao nascimento e aos 65 anos) mostram que o sistema de saúde português está entre os mais eficientes da Europa e que os principais indicadores de saúde estão a melhorar.

O relatório confirma, que ao longo dos anos de crise económica, 2010 a 2015, ao mesmo tempo que se verificava uma forte diminuição do Produto Interno Bruto do país (menos 5.4% entre 2010 e 2013) e das despesas totais em saúde em % do PIB de 12.5% no mesmo período, as medidas propostas pela Troika e implementadas pelo governo português faziam aumentar no mesmo período os encargos financeiros das famílias, ao mesmo tempo que diminuía a despesa pública em saúde e diminuíam de uma forma significativa as despesas em cuidados de saúde per capita, para $US 2689.9 dólares per capita em 2014, muito abaixo dos $US 3379 dólares da média da União Europeia.
Concluindo que o equilíbrio entre as medidas de austeridade, a manutenção do estado de saúde da população e o acesso aos cuidados de saúde foram conseguidos através da diminuição das despesas públicas em saúde.

Assim se já antes da crise económica e social, os encargos financeiros para as famílias portuguesas já eram muito significativos, tendo em conta a universalidade dos cuidados de saúde em Portugal, com as medidas aplicadas pelo XIX Governo Constitucional (Passos Coelho) entre 2011 e 2015, essa tendência agravou-se. Em 2015 os pagamentos diretos dos bolsos das famílias portuguesas (out-of-pocket payments) cifraram-se em 27.6% (23% no início da crise), o mais elevado da União Europeia.

Os autores terminam afirmando que o atual governo português (XX Governo Constitucional), enfrenta um novo desafio, uma vez que as medidas tomadas pelo XIX Governo Constitucional (Passos Coelho), baseadas em cortes: dos salários dos profissionais de saúde, dos preços dos medicamentos e dos exames complementares de diagnóstico e terapêutica, não são mais possíveis.

Reconhecendo a necessidade de aumentar a dotação orçamental do Serviço nacional de Saúde a par do aumento da eficiência das suas unidades e de futuros investimentos em recursos humanos e infra-estruturas.

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