domingo, 23 de junho de 2019

CRESCER NA POBREZA E VIVENCIAR ACONTECIMENTOS TRAUMÁTICOS CAUSAM IMPACTO NO DESENVOLVIMENTO DO CÉREBRO E NO COMPORTAMENTO DAS CRIANÇAS E JOVENS


Um estudo publicado na revista “Jama Psychiatry” do passado dia 29 de maio, conduzido por investigadores da Escola Médica Perelman de Filadélfia, Universidade da Pensilvânia e do Children's Hospital of Philadelphia, mostrou que crescer na pobreza e ser vítima de acontecimentos traumáticos stressantes como acidentes graves, homicídios, violência doméstica ou agressões sexuais afeta o desenvolvimento cerebral e o comportamento das crianças e jovens.

Na investigação que deu origem à publicação “ Burden of Environmental Adversity Associated With Psychopathology, Maturation, and Brain Behavior Parameters in Youths” os autores procuraram perceber até que ponto é que a psicopatologia, a neurocognição e os parâmetros cerebrais dos jovens eram afetadas quando estes cresciam mum ambiente adverso que incluí-se o baixo nível socioeconómico e situações que provocassem stress traumático com a psicopatologia, neurocognição e parâmetros cerebrais, para esse fim usaram uma coorte denominada Philadelphia Neurodevelopmental Cohort, composta por 9.498 crianças e jovens entre os 8 e 21 anos recrutados no Children's Hospital of Philadelphia.

Os resultados revelaram que a pobreza estava associada a um pequeno aumento da gravidade dos sintomas psiquiátricos, incluindo o humor/ansiedade, as fobias, os transtornos de conduta, as perturbações de oposição e desafio, os transtornos de défice de atenção com hiperatividade e as psicoses em comparação com as crianças e jovens que não viviam em pobreza. No caso dos eventos traumáticos stressantes a magnitude dos sintomas psiquiátricos foram inesperadamente grandes para os investigadores, estando a associados a transtornos de stres pós-traumático, realçando os autores que a presença de 1 ou 2 eventos traumáticos eram suficientes para o aumento da gravidade dos sintomas psiquiátricos avaliados, em particular no caso do humor/ansiedade e das psicoses.
No caso do funcionamento neurocognitivo, verificou-se que a pobreza estava associada a défices cognitivos moderados a severos, especialmente nas funções executivas (abstracção, flexibilidade mental, atenção e memória operativa) e no raciocínio complexo, enquanto que para os eventos traumáticos foram encontrados défices ligeiros na cognição complexa, mas demonstrando um desempenho de memória ligeiramente melhor.
L´IMMIGRATION PORTUGAISE
Tanto a pobreza como os eventos traumáticos foram associados a alterações da normalidade na anatomia, fisiologia e conectividade do cérebro. As associações com a pobreza foram generalizadas, enquanto que eventos traumáticos foram associadas a diferenças mais centradas nas regiões límbica e fronto-parietal do cérebro, que processam emoções, memória, funções executivas e raciocínio complexo.


Finalmente, o estudo encontrou evidências de que o crescimento num ambiente adverso caracterizado pela pobreza e pelos eventos traumáticos stressantes está associado a um início precoce da puberdade e a uma maturidade física precoce.

Os investigadores verificaram, ainda, que as crianças que tinham sofrido mais eventos traumáticos stressantes tinham características de cérebros adultos, a afetar o seu desenvolvimento, uma vez que a estratificação cuidadosa da conectividade estrutural e funcional do cérebro exige tempo, e a maturidade precoce pode impedir o aprimoramento necessário das suas aptidões.

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