quinta-feira, 19 de maio de 2016

THE BIG FOOD - O IMPACTO DO CONSUMO DOS "ALIMENTOS" ULTRAPROCESSADOS NA SAÚDE DAS COMUNIDADES

Para entender o aumento da produção e consumo de produtos ultraprocessados como principais causadores da atuais pandemias de obesidade e de doenças crónicas (aqui),conforme comprovam os vários estudos publicados, que relacionam o consumo de produtos ultraprocessados com o ganho excessivo de peso e a resistência à insulina. (aqui)(aqui) (aqui)é necessário entender que quem governa os sistemas globais de alimentos são as empresas multinacionais de alimentos e bebidas, com enorme poder e concentração de mercado, conhecidas como “Big Food”, de acordo com a informação publicada pela PLoS Medicine series on Big Food, “ In the United States, the ten largest food companies control over half of all food sales and worldwide this proportion is about 15% and rising. More than half of global soft drinks are produced by large multinational companies, mainly Coca-Cola and PepsiCo. Three-fourths ofworld food sales involve processed foods, for which the largest manufacturer shold over a third of the global market. The world's food system is not a competitive marketplace of small producers but an oligopoly. What people eat isincreasingly driven by a few multinational food companies.”
Mas para além destas evidências encontradas é relevante sistematizar os problemas para a saúde motivados pelo consumo excessivo e desequilibrado de produtos ultraprocessados devido à má qualidade nutricional, associada a serem saborosos e quasi-aditivos, por imitarem os alimentos e mostrarem-se como falsamente saudáveis, por fomentarem o consumo de snacks, por serem anunciados e comercializados de forma agressiva, por serem social, cultural e ambientalmente destrutivos. (aqui) (aqui)(aqui)

Má qualidade nutricional
Os produtos ultraprocessados tem um alto valor calórico, possuem grandes quantidades de gordura, açúcar e sal, quantidades reduzidas de fibras alimentares, proteínas e micronutrientes. Geralmente têm uma carga glicémica alta e um elevado nível de gorduras saturadas e trans. A sua verdadeira natureza é dissimulada com o uso sofisticado de aditivos. Alguns destes são inócuos mas de outros não se conhecem a sua segurança.

Sabor e Adição
Os produtos ultraprocessados estão feitos para saciar os desejos de comida, são exageradamente apaladados, viciantes, promovendo a quasi-dependência. Certas características como o gosto e as propriedades são projetadas através de ciência dos alimentos e outras tecnologias, podendo distorcer os mecanismos de saciedade do sistema digestivo e do cérebro que controlam o apetite e causar consumo excessivo.




Imitam os alimentos e são vistos erradamente como saudáveis
Os produtos ultraprocessados imitam alimentos, mas não são alimentos modificados nem sequer outras versões de alimentos, na sua elaboração as tecnologias empregues são usadas para imitar a aparência, a forma e as qualidades sensoriais dos alimentos. Muitas vezes os seus fabricantes, criam uma falsa impressão acerca destes produtos, incluindo imagens de alimentos naturais, nas embalagens e no material promocional, anunciando também a introdução de vitaminas sintéticas, sais minerais e outros compostos de forma a declará-los como saudáveis.

Fomentam o consumo de snacks
Os produtos ultraprocessados, vendem-se geralmente na forma de snacks, bebidas ou pratos rápidos. Estão disponíveis, em todo o lado, nas estações de serviços, nas lojas de conveniência, em qualquer prestador de serviços, etc. e podem adquirir-se em qualquer momento. Podem consumir-se em qualquer lugar, na rua, no trabalho, enquanto se espera atendimento, nos transportes, em casa. São práticos, fáceis de armazenar e transportar, muitas vezes não necessitam de pratos nem de utensílios e são muitas vezes consumidos quando estamos a fazer outras coisas, a trabalhar, a conduzir, a ver televisão, no cinema ou num espetáculo desportivo.

Marketing e Publicidades agressivas
Os produtos ultraprocessados desenhados para serem muito lucrativos são em regra produtos de marca propriedade de grandes multinacionais, que compram e produzem os ingredientes industriais necessários a um custo muito baixo, operando em economias de grande escala. Estas empresas destinam elevados orçamentos anuais (muitos milhões) para a sua promoção e publicidade, que inclui “crossadverteising” entre as suas marcas, para tornar os seus produtos mais atrativos e glamourosos. Tal como acontece com os cigarros e as bebidas alcoólicas, as estratégias de marketing “ often use highly charged and seductive ideas, language, and images that undermine the desire and ability to make rational and healthy choices, and are particularly effective when targeting children, adolescents, and other vulnerable groups”

Social e ambientalmente destrutivos

Há medida que os produtos ultraprocessados têm ocupado uma maior presença nos padrões alimentares mundiais, alavancados pelas medidas de liberalização do comércio datadas dos anos 80, tem-se verificado uma alteração profunda nas dietas alimentares, com o abandono das cozinhas tradicionais, expressões da identidade e da autonomia das comunidades, adaptadas ao clima e aos territórios, habitualmente apoiadas na biodiversidade, nas economias rurais e nas empresas locais. A deslocação destes padrões alimentares para um sistema alimentar industrial global centrado nos produtos ultraprocessados, danifica o tecido social, cultural, e saúde emocional e mental das populações.

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