Para entender o
aumento da produção e consumo de produtos ultraprocessados como principais causadores da atuais pandemias de obesidade e de doenças
crónicas (aqui),conforme comprovam os vários
estudos publicados, que relacionam o consumo de produtos ultraprocessados com o
ganho excessivo de peso e a resistência à insulina. (aqui)(aqui) (aqui)é necessário entender que
quem governa os sistemas globais de alimentos são as empresas multinacionais de
alimentos e bebidas, com enorme poder e concentração de mercado, conhecidas
como “Big Food”, de acordo com a informação publicada pela PLoS Medicine series
on Big Food, “ In the United States, the ten largest food companies control
over half of all food sales and worldwide this proportion is about 15% and
rising. More than half of global soft drinks are produced by large multinational companies, mainly Coca-Cola and PepsiCo. Three-fourths ofworld food sales involve processed foods, for which the largest manufacturer shold over a third of the global market. The world's food system is not a competitive marketplace of small producers but an oligopoly. What people eat isincreasingly driven by a few multinational food companies.”
Mas para além destas evidências
encontradas é relevante sistematizar os problemas para a saúde motivados pelo
consumo excessivo e desequilibrado de produtos ultraprocessados
devido à má qualidade nutricional, associada a serem saborosos e
quasi-aditivos, por imitarem os alimentos e mostrarem-se como falsamente
saudáveis, por fomentarem o consumo de snacks, por serem anunciados e
comercializados de forma agressiva, por serem social, cultural e
ambientalmente destrutivos. (aqui) (aqui)(aqui)
Má qualidade nutricional
Os produtos ultraprocessados tem
um alto valor calórico, possuem grandes quantidades de gordura, açúcar e sal,
quantidades reduzidas de fibras alimentares, proteínas e micronutrientes.
Geralmente têm uma carga glicémica alta e um elevado nível de gorduras
saturadas e trans. A sua verdadeira natureza é dissimulada com o uso
sofisticado de aditivos. Alguns destes são inócuos mas de outros não se
conhecem a sua segurança.
Sabor e Adição
Os produtos ultraprocessados
estão feitos para saciar os desejos de comida, são exageradamente apaladados,
viciantes, promovendo a quasi-dependência. Certas características como o gosto
e as propriedades são projetadas através de ciência dos alimentos e outras
tecnologias, podendo distorcer os mecanismos de saciedade do sistema digestivo
e do cérebro que controlam o apetite e causar consumo excessivo.
Imitam os alimentos e são vistos
erradamente como saudáveis
Os produtos ultraprocessados
imitam alimentos, mas não são alimentos modificados nem sequer outras versões
de alimentos, na sua elaboração as tecnologias empregues são usadas para imitar
a aparência, a forma e as qualidades sensoriais dos alimentos. Muitas vezes os
seus fabricantes, criam uma falsa impressão acerca destes produtos, incluindo
imagens de alimentos naturais, nas embalagens e no material promocional,
anunciando também a introdução de vitaminas sintéticas, sais minerais e outros
compostos de forma a declará-los como saudáveis.
Fomentam o consumo de snacks
Os produtos ultraprocessados,
vendem-se geralmente na forma de snacks, bebidas ou pratos rápidos. Estão
disponíveis, em todo o lado, nas estações de serviços, nas lojas de
conveniência, em qualquer prestador de serviços, etc. e podem adquirir-se em
qualquer momento. Podem consumir-se em qualquer lugar, na rua, no trabalho,
enquanto se espera atendimento, nos transportes, em casa. São práticos, fáceis
de armazenar e transportar, muitas vezes não necessitam de pratos nem de
utensílios e são muitas vezes consumidos quando estamos a fazer outras coisas,
a trabalhar, a conduzir, a ver televisão, no cinema ou num espetáculo
desportivo.
Marketing e Publicidades
agressivas
Os produtos ultraprocessados
desenhados para serem muito lucrativos são em regra produtos de marca
propriedade de grandes multinacionais, que compram e produzem os ingredientes
industriais necessários a um custo muito baixo, operando em economias de grande
escala. Estas empresas destinam elevados orçamentos anuais (muitos milhões)
para a sua promoção e publicidade, que inclui “crossadverteising” entre as suas
marcas, para tornar os seus produtos mais atrativos e glamourosos. Tal
como acontece com os cigarros e as bebidas alcoólicas, as estratégias de
marketing “ often use highly charged and seductive ideas, language, and images
that undermine the desire and ability to make rational and healthy choices, and
are particularly effective when targeting children, adolescents, and other
vulnerable groups”
Social e ambientalmente destrutivos
Há medida que os produtos
ultraprocessados têm ocupado uma maior presença nos padrões alimentares
mundiais, alavancados pelas medidas de liberalização do comércio datadas dos
anos 80, tem-se verificado uma alteração profunda nas dietas alimentares, com o
abandono das cozinhas tradicionais, expressões da identidade e da autonomia das
comunidades, adaptadas ao clima e aos territórios, habitualmente apoiadas na
biodiversidade, nas economias rurais e nas empresas locais. A deslocação destes
padrões alimentares para um sistema alimentar industrial global centrado nos
produtos ultraprocessados, danifica o tecido social, cultural, e saúde
emocional e mental das populações.
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