sábado, 7 de maio de 2016

TTIP E TTP - OS TRATADOS DE LIVRE COMÉRCIO E O SEU IMPACTO NA SAÚDE

Tradicionalmente, um Acordo de Comércio Livre é um acordo entre dois ou mais países, que pretende eliminar as barreiras ao comércio, tais como tarifas (sobre importações e exportações) ou cotas de importação para os países membros. Cada vez mais, os Acordos de Comércio Livre mudaram para abranger não apenas os regulamentos relacionados com as trocas de bens e serviços, mas também para regular a propriedade intelectual e o investimento, e as barreiras ao comércio aplicadas para lá das fronteiras.

O processo de negociação dos Acordos de Comércio Livre são geralmente confidenciais. Ao longo do tempo em que decorrem as negociações, a falta de transparência faz com que quase todas as informações e documentos conhecidos provenham de fugas de informação e de pedidos ao abrigo das leis de liberdade de informação. É o que se tem verificado no caso das negociações da Parceria Transatlântica para o Comércio e o Investimento (Transatlantic Trade and Investment Partnership — TTIP) entre os Estados Unidos da América (EUA) e a União Europeia (UE) em que documentos classificados como sigilosos têm sido objeto de fugas de informação e publicados no sítio da Greenpeace Holanda (aqui), como antes já se tinha verificado durante o processo negocial da TTP - Trans Pacific Partnership Agreement (TPP) envolvendo a Austrália, o Brunei, o Canadá, o Chile, o Japão, a Malásia, o México, a Nova Zelândia, o Peru, Singapura, os EUA e o Vietname, representando cerca de 40% do PIB mundial, assinado em Fevereiro de 2016 em Auckland, Nova Zelândia.

Ao longo de todo o processo negocial do TTP, muitas preocupações foram levantadas por organizações nacionais e internacionais de saúde e desenvolvimento sobre o seu potencial impacto sobre a saúde pública (aqui) (aqui), incluindo: a redução no acesso a medicamentos mais baratos, a alteração nas políticas sobre o tabaco e o álcool, diminuindo a sua eficácia, a redução da segurança alimentar dando origem a uma alimentação mais pobre, o aumento dos custos dos cuidados de saúde e o aumento da pressão sobre o ambiente.

Como exemplo, na Austrália, as “Australian Medical Association and the Public Health Association of Australia” chamaram à atenção para os efeitos do TTPA sobre a saúde pública, uma vez que pretende harmonizar as políticas dentro dos países signatários que afetam bens comercializados pelo menor denominador comum, limitando as proteções de saúde pública relacionadas com medicamentos, tabaco, álcool e alimentos, sobrepondo-se às legislações nacionais, e permitindo que as grandes corporações internacionais, incluindo as empresas que fabricam, comercializam e distribuem produtos prejudiciais à saúde possam processar os Estados, e buscar compensações dos governos para as políticas que as afetem de forma negativa, dando como o exemplo os processos desencadeados pelas subsidiárias da Philip Morris International contra os governos da Austrália e do Uruguai, com base em acordos internacionais de livre comércio pondo em causa as políticas de rotulagem das embalagens de tabaco (aqui).

Sendo cada vez mais reconhecido na literatura internacional de saúde, que os acordos de livre comércio (TLC), podem ter impactos prejudiciais na saúde a Comissão para os Determinantes Sociais da Saúde da OMS recomendou que ao países utiizem os processos de avaliação do impacto na saúde “health impact assessment (HIA)” para avaliar as potenciais consequências para a saúde de uma grande variedade de propostas que abrangem diferentes sectores e níveis de governação, permitindo preparar a formulação de políticas de comércio a partir de uma perspetiva de política de saúde.

Deixamos aqui o exemplo desenvolvido pela "Association and the Public Health Association of Australia" (aqui)



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