domingo, 26 de junho de 2016

SALVADOR ALLENDE - UM MÉDICO À FRENTE DO SEU TEMPO

Passam hoje 108 anos sobre o nascimento de Salvador Allende Gossens (26 de Junho de 1908), figura maior do século XX, Presidente do Chile de 4 de Setembro de 1970 até ao dia da sua morte no dia 11 de Setembro de 1973, durante a ocorrência de um golpe de estado liderado pelo general Pinochet (aqui).

Revista "Cuadernos Médico Sociales"
Recordado pelo mundo inteiro, em dezenas de monumentos, praças, scolas, hospitais, ruas e avenidas, de oeiras a ramalá, de montreal a sidney, de paris a havana, Salvador Allende é mais conhecido como político do que como médico, sanitarista, pioneiro da medicina social e da saúde pública.

Em 1926, com a idade de 18 anos, ingressa na Escola de Medicina da Univeridade do Chile, desenvolve atividades de carácter político e associativo, tornando-se presidente do centro de alunos e vicepresidente da Federação de Estudantes. Suspenso dos estudos e da actividade política e associativa em 1931, termina o curso de medicina em 1933. Durante a sua estadia na universidade desempenha atividades docentes, quer como monitor de anatomia patológica quer como professor das Escolas Noturnas para Operários.

Influenciado por Max Westenhofer, patologista alemão discípulo de Rudolf Virchow´s, que durante anos dirigiu o departamento de patologia da escola médica da universidade do Chile, incentivando os seus alunos a conhecerem a visão de Virchow acerca das determinantes sociais das doenças, Salvador Allende, nomeado ministro da “ Salubridad, Previsión y Asistencia Social” do governo de Frente Popular (1939 - 1942) (aqui) publica em 1939 o livro “ Realidad médico-social chilena “. (aqui)

Neste trabalho descreve as condições de saúde do povo chileno, identifica os principais problemas de saúde: mortalidade materna e infantil, a tuberculose, as doenças venéreas e outras doenças transmissíveis, o alcoolismo, os distúrbios emocionais e as doenças profissionias.
Conclui que as taxas de mortalidade materna e infantil eram muito mais elevadas que nos países desenvolvidos, que o aborto ilegal (em particular entre as classes trabalhadoras), a desnutrição e a falta de saneamento são as principais explicações para este excesso de mortalidade. Designa a tuberculose como “doença social”, analisa os problemas sociais e psicológicos que motivam as pessoas a usarem drogas que causam dependência, dando especial atenção ao alcoolismo. Propõe um conjunto de reformas que vão muito além da intervenção médica ou dos cuidados de saúde e que se centram na melhoria das condições sócioeconómicas, através daquilo que chamou como abordagem “ médico-social”, sugerindo modificações nos salários, melhorias na habitação e no acesso à habitação, um plano para melhorar a rede de refrigeração, e a oferta de leite e peixe. Sugere a reorganização do Ministério da Saúde, o controlo da produção e dos preços dos medicamentos, o planeamento em saúde, políticas de saúde e segurança no trabalho, medidas de apoio à medicina preventiva e programas sanitários.

Ao longo dos anos seguintes, e a par de uma forte e intensa atividade política enquanto Senador da República, (1945 – 1970) dirigente do Partido Socialista chileno, candidato derrotado à Presidência da República em 1952, 1958 e 1964, assume-se como o político médico mais influente, dirigindo o Colégio Médico do Chile de 1949 a 1963 e contribuindo ao longo desses anos para a expansão da saúde pública e para o lançamento do serviço nacional de saúde (1952). Anima apoia e ajuda a fundar a Revista “ Cuadernos Médicos Sociales “ em 1959, pelo Colégio dos Médicos do Chile, que ainda hoje se publica como Revista de Saúde Pública do Colégio dos Médicos do Chile (aqui).

Considerado por muitos, como um idealista e um romântico, encarnando a esperança de uma sociedade mais justa, foi eleito Presidente da República em 1970 com um programa de transformações do capitalismo em socialismo, num processo que vai ficar conhecido como a "a via chilena para o socialismo".

Citando o Professor Howard Waitzkin da Universidade do Novo México “ Many years later, the insight that the social origins of illness demand social solutions is not particularly surprising. Like Engels and Virchow before him, Allende saw major origins of illness in the structure of society. This vision implied that medical intervention without political activism would remain ineffectual and, in a deep sense, misguided.” (aqui)





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